domingo, 29 de janeiro de 2017

Resenha: Em Algum Lugar nas Estrelas




Apesar de "Em Algum Lugar nas Estrelas" ter sido um dos livros mais comentados na internet em 2016, por algum motivo ele não estava na minha lista de leituras. Porém, por destino ou bom gosto literário de meu namorado, ganhei este livro de presente no final do ano e resolvi dar uma chance a ele.  

A primeira impressão que tive foi de deslumbramento com a capa e ao abri-lo, me surpreendi ainda mais ao ver que as folhas de guarda e folhas de rosto estavam cheias de ilustrações belíssimas das constelações. Uma das características da Editora Darkside é o capricho com a edição dos livros, e este com certeza mantém o padrão. Agora, antes de passarmos à resenha, comece a escutar a playlist especialmente criada para o livro pela Darkside:


Fonte da imagem: http://www.darksidebooks.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Em-Algum-Lugar-3D-livro-aberto-completo.png


O enredo se passa em 1945 sob o ponto de vista de Jackie Baker, um garoto do Kansas de 14 anos que, ao subitamente perder a mãe, se vê sozinho com o pai, um capitão da marinha atormentado pela guerra que não sabe como lidar com o luto e como cuidar do filho que não vê a quatro anos. O menino então é colocado na Escola para Meninos Morton Hill, um colégio interno próximo ao estaleiro onde seu pai ocupa um posto. Longe dos campos planos do Kansas, ele tenta se adaptar à rotina do colégio até conhecer Early Auden.

"Li em algum lugar, provavelmente na revista National Geographic, que é possível saber muito sobre as pessoas pelo que elas idolatram. Acho que cada lugar tem seus templos. Na minha cidade, a igreja é o centro de tudo: bazares, batizados, casamentos, leilões, bingo. Na minha antiga escola, o campo de beisebol era o nosso altar. As pessoas da cidade enchiam as arquibancadas e torciam pela vitória. Nós, os jogadores, conhecíamos todas as escrituras do evangelho do beisebol e todos os santos padroeiros: Babe Ruth, Lou Gehrig, Ty Cobb e Joe DiMaggio. No momento em que pisei no estaleiro, soube que aquele era o altar da Morton Hill."

Inicialmente, Jackie se sente intimidado pelas "esquisitices" do garoto solitário, que mal assiste às aulas, determina que cantor vai ouvir pelo dia da semana e pelo clima e que acredita que o número Pi conta a história de uma pessoa real. Eles se aproximam quando Early se oferece para o ajudar a praticar remo e a restaurar o barco de Jackie para participar de uma regata. Quando as férias chegam e Jackie é deixado sozinho porque o mau tempo impediu o pai de buscá-lo, Early o convida para uma cruzada. Ele precisa desesperadamente encontrar Pi, que estaria perdido e em perigo. Assim, em meio à história, temos também as narrativas de Early sobre Pi.

"Antes de as estrelas terem nomes, antes de os homens saberem como usá-las para  traçar seus caminhos, antes de alguém se aventurar além do próprio horizonte, existia um menino que se perguntava o que havia além de tudo aquilo. Ele olhava para as estrelas com admiração e fascínio, mas o fascínio não era só consequência da veneração. Era fruto também de uma pergunta: por que?"

A doçura desse livro me encantou profundamente. Apesar de tratar de temas complexos, a linguagem é poética, suave e os personagens cativantes. Os trechos em que Jackie fala sobre a mãe são maravilhosos. Embora não se encaixe perfeitamente no gênero fantasia, o livro possui alguns acontecimentos sobrenaturais, que fazem o leitor se questionar se aquilo realmente teria acontecido ou se era imaginação dos garotos.

"Ninguém pode dizer nada sobre saber o nome das estrelas. O céu não é um campeonato ou uma prova. A única pergunta é: você consegue olhar para cima? Absorver tudo aquilo? Quanto ao nome das constelações, elas não são meio nem fim. As estrelas não estão presas umas às outras. Estão lá para serem admiradas. Olhadas, desfrutadas."

Outro ponto marcante do livro é a maneira com que a autora aborda o autismo de Early. Ele não nos provoca pena, mas sim fascínio, o enxergamos com um dom extraordinário. No momento em que comecei a leitura, logo me lembrei de Daniel Tammet, um matemático brilhante que enxerga os números com cores e formas. Minha suspeita se confirmou quando, ao final do livro, a autora afirma que se baseou em Tammet para criar o personagem.

Esta bela história sobre amizade e reconexão com a família agrada qualquer idade, tem a dose certa de adrenalina e sentimento, as descrições nos fazem sentir como se estivéssemos realmente no Maine e a paixão de Early é capaz de despertar a curiosidade matemática até mesmo naqueles que mais a detestam! Eu recomendo bastante a leitura!

Um abraço, 
Bella

Minha nota: