quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Resenha: Enterro Celestial


  A primeira vez que ouvi a respeito da cultura tibetana foi no documentário Wild China. Fiquei fascinada como a religião budista fez com que o ecossistema do Tibete, vital para as monções, se mantivesse praticamente intacto. Afora isso, eu não sabia mais nada sobre ele e então quando ouvi falar sobre Enterro Celestial, logo minha curiosidade foi aguçada e eu resolvi lê-lo.

  O livro, escrito pela jornalista chinesa Xinran, é um relato de uma história real. Shu Wen, uma chinesa recém casada, decide abandonar sua vida e sua família na China para ir atrás do marido que, servindo como médico para o Exército Popular de Libertação, foi dado como morto em uma missão no Tibete. Sem saber falar a língua local ou mesmo como sobreviver em um ambiente tão inóspito, ela mergulhou num universo completamente desconhecido. Tudo que ela sabia parecia ser inútil no Tibete.

"Wen lembrou que sua mãe dizia que uma jovem chinesa educada devia ter formação completa em seis coisas: música, xadrez, caligrafia, pintura, costura e culinária. Uma mulher do Tibet era valorizada por um conjunto muito distinto de talentos. Wen corou ao pensar na sua incompetência. Nem mesmo sua formação médica era de alguma utilidade ali."

  Durante um tempo ela viveu com uma família de nômades com um estilo de vida ancestral. A rotina e a pouca variação na paisagem fazia com que os dias, meses e anos parecessem intermináveis, dando à protagonista uma sensação de impotência e desespero. Em nossas mentes ocidentais e no momento atual de globalização não conseguimos conceber como ficar anos sem ter notícias da pessoa amada ou sem poder se comunicar com a família.


"O outono virou inverno e o inverno virou primavera. Wen descobriu que já não acompanhava a sequência dos anos que passavam. Simplesmente seguia a família quando eles mudavam em busca de pastagens frescas e de abrigo contra as forças da natureza. Para ela, todas as montanhas, todas as campinas pareciam iguais; para eles havia distinções sutis."

  O isolamento faz com que Wen somente descubra que a guerra entre chineses e tibetanos acabou há muito tempo quando se encontra com alguns chineses na capital, Lhasa. Ao retornar à China ela não reconhece a cidade natal, tamanhas às mudanças que o país sofreu nos últimos trinta anos em que ela esteve no Tibet.

  O livro é um relato tão vívido que durante várias vezes me emocionei e, ao terminá-lo, meu coração ainda doía ao pensar em Shu Wen. Tenho certeza que este foi um dos melhores livros que já li. As condições severas em que a protagonista se encontra são tratadas de forma muito delicada, até mesmo poética. Seja para ler uma bela história de amor e perseverança ou para descobrir sobre os costumes e a cultura tibetana, recomendo que você leia este livro.

Abraços,
Bella

Minha nota:

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